há um tempo que não passa
mas também não permanece
ele dança entre o que foi
e o que ainda não se esquece

há uma face que não é real
um gesto ensaiado, uma fala vazia
mas eu conheço o olhar por trás da muralha
e ele ainda brilha com poesia

a separação veste disfarces
mas o tempo desfaz os arames e os farses
desnuda o que o orgulho cobriu
e revela que o amor não partiu

há silêncio agora
e até certa dureza
mas eu me apego
à lembrança da leveza, primeiro
à risada solta, ao toque sincero
ao amor que um dia foi inteiro

não espero o passado em repetição
mas a essência em revelação
que o tempo traga de volta, no vento
o que ficou calado no sentimento

porque o que é verdadeiro não se desfaz
apenas se cobre, se protege, se refaz
e eu sigo
com esperança no tempo
que ele cure o que não coube no momento
e revele, enfim,
a bênção que havia por dentro