chego sem armadura
ofereço o que tenho:
uma chave que faltava,
um gesto que soma.
você até que recebe,
mas não me reconhece.
o reflexo nos teus olhos
ainda veste o rosto errado.
não fui eu que pintei,
mas carrego a cor.
as palavras que te cercaram
ainda murmuram em silêncio.
e mesmo caladas,
seguem afastando a mesa,
apagando a luz.
eu trago presença,
parceria e cuidado — mas
tua resposta se esconde
atrás de uma névoa
que ainda não se desfez.
percebo que cada recuo teu
desenha um limite em mim.
e eu me dobro, devagar,
pra não quebrar
o que ainda é semente.
amar, assim, desse jeito,
é como plantar no deserto
e esperar que o chão,
um dia,
volte a beber.
mas o sol castiga,
e eu me pergunto:
quanto de mim ainda cabe aqui
antes que eu vire miragem?
sei que juntos é melhor.
sei que a família, refeita,
é abrigo pra todos.
mas querer sozinho é
vício de esperança
que também adoece.
sinto que aos poucos,
vou deixando de bater.
não por falta de vontade,
mas por falta de pele
que aguente a porta
se mantendo parede.
às vezes, penso que amar
é se doar,
até onde a dignidade permite.
e recuar, quando o amor
só consegue escutar
o próprio eco.
se o seu amor, um dia,
lembrar do caminho,
que encontre em mim
um rastro de cuidado —
não por ainda esperar,
mas por ter amado inteiro,
mesmo onde fui negado.