O tempo lima o brilho do disfarce,
burila o falso ouro — racha o esmalte;
a pose frágil perde, enfim, seu enlace,
e a face crua ergue-se, sem baluarte.

No instante, a máscara soa perfeita,
vidro fumê sobre a dúvida alheia;
mas cada segundo é lâmina estreita
que expõe a fissura, remexe a areia.

Ó máscara que pesa no semblante,
deves tu ser lançada ao vento!
O tempo te costura em fio cortante
e exibe a cicatriz do fingimento.

O relógio não faz pacto com engano —
marca, implacável, a falha e o tropeço;
desfia o tecido do gesto insano,
resseca o excesso, revela o avesso.

Quem crê na pose eterna se engana:
o tempo retira o pano e o artifício;
fica a cicatriz, a fronte humana,
e o riso quebrado aprende o ofício.

Assim, o disfarce — frágil porcelana —
desmorona ao toque da ampulheta;
surge a verdade, nua, soberana,
rainha erguida da própria vendeta.