me sento às mesas
entre vozes acesas
risos que dançam no ar
mas aqui dentro é bruma
e ninguém pode tocar

me olham nos olhos
tentam me alcançar
mas é como se falassem
com alguém que só
por fora ali está

não é solidão comum
é ausência com perfume certo
um silêncio que cresce
quanto mais gente aparece
um vazio quase concreto

é estranho ser querido por outras
e sentir que, mesmo cercado,
estou incompleto
o que me falta tem nome, tem rosto
e mora onde meu dia não é fosco

é estranho sorrir
quando o peito quer fugir
é estranho estar presente
quando o coração se ausenta
e nem tenta fingir

quando o coração se esconde
atrás de uma porta
que só ela tem a chave para abrir
não há gesto que me comforte
não há riso que me faça existir

essas pessoas não me ferem
mas também não me completam
só me lembram, quando me querem
que a minha alma inquieta
busca o que elas não ofertam

meu propósito não está ali
não floresce aqui
está onde o amor repousa
e me chama pelo nome
está com a minha família
onde enfim, o tempo some

e estar longe deles
é estar longe de mim
um corpo que caminha
com saudades, no fim